Projeto Encontros Sociais

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Retroevolução": grunhidos de uma sociedade moderna.

Sobre inquietações, algumas linhas catárticas.


Era enésima vez o atropelo de um tráfego
Uma multidão solitária
E uma cor de semáforo
Siga!
Por sobre umas mãos estendidas, imundas, oprimidas
Avante!
Por sobre uns malabares marginais
Rumo a Babel horizontal.

Era uma gente citadina
Gente que inventava progresso
Gente que “entatuzava”, mas não arredava o pé
Urbanidade que gerava um pouco de bicho
Um pouco de deus
Modernidade que paria mamute.

Era ambivalência.

E a ilusão de liberdade
Era a cultura do não-ser
E caras desesperançadas que abraçavam apostasias
E apoteoses que transfiguravam caras sofridas
“Ampulhetadas” nas virações, na danação, na quimera do amanhã.

E a cidade inchava
Tangia a massa anônima. Nômade. 

Fadiga de mundo...

E era na guerra do desenvolvimento
A periferia da cidade
E os sentimentos periféricos de si
Era a criminalidade
E os conflitos raciais
A massificação da pobreza
As doenças da fome
Os atentados à natureza
Eram
A hélice, a latrina e o ventilador.

E o subúrbio que dormia ao som de máquinas acasalando 

Era o verde do semáforo
O único verde da cidade-neón...

         Basta que olhemos, com um pouco de sensibilidade, as movimentações do subúrbio para que percebamos todo o retrocesso que há na forma como concebemos o mundo. Revestido de uma altivez de desenvolvimento, os contrastes sociais não conseguem disfarçar a força esmagadora que exerce sobre uma sociedade sedenta, famélica, que segue sem muitas esperanças... Os exemplos que vejo, no entanto, me mostram que aqui e alí, mais adiante, levantam-se alguns, que não se deixam resignar, vencendo, diariamente, o conformismo.

Mariane Cândido

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