Projeto Encontros Sociais

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Histórico

O Projeto Encontros Sociais é uma iniciativa do sociólogo e antropólogo pernambucano Normando de Albuquerque Melo. Partindo da ideia de que a Universidade oferece uma formação alienante que conduz os estudantes a uma vida acadêmica apartada da sociedade e limitada a uma sala de aula ilhada, em 2009 ele criou o Projeto de Extensão Universitária Pontes de Cultura, acolhido pelo Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Pernambuco (NASEB/UFPE), coordenado pela Profª Maria Aparecida Lopes Nogueira.

Se a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão é uma premissa fundamental do fazer acadêmico com vistas a garantir uma formação ampla, que prime pelo desenvolvimento técnico-científico e psicossocial, sua operacionalização tem se mostrado um grande desafio para as universidades. Não é incomum que neste “tripé” as pernas não tenham o mesmo tamanho e nem sempre consigam andar bem juntas. Mais do que na prática da pesquisa e do ensino (identificadas de imediato com a dinâmica universitária), o desafio está em abrir circuitos de comunicação que animem a relação entre a universidade e a sociedade, praticar isso que chamamos “extensão”.

Por certo, esta não é uma questão que se esgota no âmbito da universidade, ela acompanha a tendência de um mundo progressivamente intolerante e excludente, no qual os indivíduos aprendem desde cedo a se fechar para o “outro”. Neste sentido, praticar a extensão como comunicação, como diálogo, conforme sugere Paulo Freire (1983), é um investimento contra a crueldade do mundo por meio de uma ética mais amorosa, que “reconhece o outro como legítimo outro da relação” (Maturana, 1998) e acalenta a esperança de construir com ele um planeta melhor. Esse foi o princípio orientador do Projeto de Extensão Universitária Pontes de Cultura, um embrião daquilo que em três anos viria a se transformar no Projeto Encontros Sociais.

Desde o seu início em 2009, o Pontes de Cultura teve como principal objetivo contribuir para reiterar o compromisso político-ético-social da Universidade pública com a sociedade brasileira. Seu fio condutor era a própria definição de extensão da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Pernambuco (PROEXT/UFPE), ou seja, “uma atividade acadêmica articulada com o ensino e a pesquisa com a intenção de promover uma relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade”. Tal projeto, como uma ação vinculada ao NASEB, foi desenvolvido ao longo dos três últimos anos com financiamento do Ministério da Educação e da Pró-Reitoria de Extensão da UFPE.

Pelo Pontes de Cultura passaram estudantes de vários cursos de graduação da Universidade, na condição de bolsistas e de voluntários, com a tarefa de construir no bairro da Várzea (Zona Oeste do Recife-PE e vizinho ao Campus da UFPE), aquilo que se entendia como “rodas de diálogo”. Este ambiente fundado no diálogo, como o próprio nome indica, visa criar laços afetivos e de cooperação de mão-dupla. As “rodas de diálogo” permitem aos estudantes aprofundarem-se nas questões focais que emergem no cotidiano dessas localidades, e ter nos indivíduos/grupos sociais envolvidos nas “rodas”, os parceiros para o enfrentamento de tais questões (na pesquisa e na ação).



Resgatando elementos da cosmovisão freireana, as “rodas de diálogo” são o mais simples, e ao mesmo tempo, o mais complexo, exercício do encontro com o próximo e da construção de uma relação com ele. Em fins de 2010, a partir de sua experiência a frente do Pontes de Cultura, o sociólogo e antropólogo elaborou o projeto do Programa de Educação Tutorial/Conexões dos Saberes, denominando-o como “Encontros Sociais: praticando o diálogo, construindo relações”, que traduzia o espírito do trabalho que vinha sendo desenvolvido por ele junto ao Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros. O projeto foi aprovado pelo Ministério da Educação e começou as suas atividades em dezembro daquele ano, sob a tutoria da Profª Maria Aparecida Lopes Nogueira e a supervisão pedagógica de Normando de Albuquerque Melo, autor do projeto político-pedagógico do Programa aprovado.

Esse Programa era totalmente voltado para estudantes das classes populares urbanas. Eram disponibilizadas 12 bolsas para que os estudantes selecionados dedicassem 20 horas semanais a atividades de formação em ensino e pesquisa, ambos orientados para e pela prática extensionista. O processo pedagógico desenvolvido no grupo buscava contribuir com uma visão ampliada da vida universitária e do fazer ciência, oferecendo uma vivência que ensina o envolvimento, o compromisso, a solidariedade, a responsabilização, o amor, o diálogo. Neste sentido, reafirmava-se o objetivo de garantir uma formação ampla aos estudantes, cultivando tanto a dimensão técnico-científica quanto psicossocial. Formação humana de um cidadão que se envolve com o desenvolvimento, e de um profissional que desenvolve o envolvimento, construindo agendas mais próximas das necessidades e interesses da maioria da população.

O Programa foi gerenciado no âmbito do Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros até junho de 2012, quando foi repassado pela tutora para a Reitoria da Universidade. No entanto, o Projeto Encontros Sociais sempre foi muito maior do que o Programa de Educação Tutorial/Conexões de Saberes que o NASEB conquistou para a Universidade Federal de Pernambuco por meio do Edital do MEC/SESu. Armado e movido pelas forças da boa vontade, o Projeto Encontros Sociais, sob a coordenação de Normando de Albuquerque Melo, mobilizou voluntários (estudantes e ex-estudantes da UFPE e da UFRPE) para atuarem como professores em um curso pré-acadêmico, voltado para as classes populares, oferecendo aulas de todas as matérias para aqueles que desejam ingressar no Ensino Superior.

No dia 3 de outubro desse ano (2012), o Projeto Encontros Sociais levou à Escola Carlos Alberto Gonçalves de Almeida (que acolheu o pré-acadêmico, o Pontes de Cultura, e outras iniciativas do Projeto que foram sendo integradas à escola, fortalecendo a parceria entre esta e o NASEB), o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, patrono do Núcleo, ao qual o Projeto Encontros Sociais está vinculado. Toda a escola se mobilizou para ouvir o mestre na sua “aula-espetáculo”. Ele falou para cerca de 160 pessoas, entre estudantes, professores e funcionários da escola, além da comunidade externa. Na ocasião, o coordenador do Projeto avaliou o papel do curso pré-acadêmico, e reafirmou o compromisso do Projeto Encontros Sociais de ativar os circuitos comunicativos que animem a relação entre universidade e sociedade em função da mútua transformação. Ali, renascia com todo o vigor, o Projeto Encontros Sociais. Não mais um Programa de Educação Tutorial ou um Projeto de Extensão, mas “um articulador das forças da boa vontade”, como definiu o seu coordenador, Profº Drº Normando de Albuquerque Melo.

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